quinta-feira, 22 de abril de 2010

Algures, a vida vai-me encontrar.

Algures, algures na vida já fui assim. Deparei-me hoje com a inocência que já tive, com a pureza que quero voltar a ter. Olhos regalados, os mesmos que mostram atenção e interesse em palavras soltas por uma voz mais adulta. Olhos negros, bem abertos, que mostram que aquela carinha de menina é sincera, menina que começa desde já a ouvir e a formar as suas próprias opiniões. Ouvi. Hoje fui eu a ouvir atenciosamente cada palavra daquela menina e a olhar cuidadosamente para cada gesto seu. Sentada ao lado daquele senhor que lhe explicava onde eram os sítios dos quais falavam, ela retribuía e questionava para ficar certa do que o senhor lhe dizia. Testa franzida, meio desconfiada, mas com um ar confiante. Tirei as minhas conclusões ao analisá-la, assim como ela as delas ao analisar cada palavra dita pelo senhor que a acompanhava no banco de autocarro. Acho que nunca gostei tanto de andar de transportes públicos, nem de estar no meio das pessoas que mal sabem falar correctamente, nem pronunciar com dicção. São as mais sábias e as que transmitem mais conhecimento a meninas pequeninas e puras (como eu própria já fui). Quero voltar para a minha aldeiazinha e tirar partido daquela pequena multidão que toda se conhece, que tudo sabem, que toda a atenção me davam por me quererem ensinar o que é a vida. Quero-as, quero as couves, ervilhas, favas e batatas, quero correr no pinhal, quero sujar-me com enxadas e sacholas na horta, quero os meus avós, quero a minha vida inocente e bela de volta. Mas quero também continuar a conhecer todo o tipo de pessoas, cada uma mais diferente da outra. Como o senhor que me acompanha constantemente nas minhas viagens no banco do autocarro: um louco que chega sempre á conclusão, no fim de cada conversa que temos, que este mundo é de loucos, está para os loucos. Apoiado. Esperançada que algures encontre o fim do meu arco-íris e tranquilize no meio de sonhos e de pureza (sem loucos, de preferência).

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