sábado, 2 de janeiro de 2010

Joel Neto

Hoje tive a ler uma opinião que vinha numa revista. Era de Joel Neto, falava da morte dos cafés.
Não acho. Não, os cafés não morreram todos (ainda!).
Sou uma "miúda" da aldeia e cresci rodeada de pessoas que sabem tudo umas das outras, que dizem "olá filha!", que perguntam pela família toda (e até pelos amigos dos paizinhos). Mudei de terra, saí da aldeia e vim morar para uma cidade muito longe da terrinha. Pensei que todo esse calor humano, toda essa cumplicidade, todos esses conhecimentos sobre vizinhos (e até intrigas!) tivessem acabado. Não! Estudo e trabalho num café há três anos (que por brincadeira chamo de tasco, porque já só nos tascos vejo o ambiente que pensei perdido). Já é uma família lá dentro. Sim , há daquelas mulheres (e homens!) que entram todas chiques sem falar a ninguém e já não se vê ninguém a jogar dominó, mas sinto-me em casa lá (na maioria do tempo!).
Chego e, todos os homens e mulheres, todos os velhos e velhas, me cumprimentam com apertos de mão, "olá borboleta! olá amor! olá jóia! que tal a semana? que tal a escola? que tal as férias? amanhã também vens?". Dizem que sou a única que sei falar, que sei ouvir, se calhar por ter crescido na minha aldeiazinha e ter aprendido a conviver com as pessoas, de maneira verdadeira, que formam todas elas uma minha segunda ou terceira família.
Sinto-me acolhida, mesmo ouvindo a máquina do café a moer, mesmo ouvindo a RFM a tocar e, os escarros do senhor Cardoso, as histórias do senhor Jorge (que também cresceu na aldeia), as criticas pouco construtivas do senhor Alfredo as histórias de todas as pessoas da terra que as velhas vão contando, as bocas que os homens mandam para as mulheres que vêm no jornal da bola, vendo os homens a dizer palavrões quando não se conseguem conter, encostados ao balcão a beber finos e minis, enfim!
Ainda me perguntam como vai a família, tal como na terrinha de onde sou.
É o lugar onde mais convivo com pessoas que têm experiências de vida para partilhar comigo (e insistem em fazer-me crescer!), onde tenho tempo para ler estas opiniões que me cativam.
Por lá, muito bons somos nós (por algumas vezes, vá!).

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